“Homens que são como fronteiras invadidas”
“Homens que são como lugares mal situados/ Homens que são como casas saqueadas”, Daniel Faria”. Este espetáculo convida a repensar a semântica do espaço por via do radical deslocamento das funções comummente atribuídas aos sítios que constituem pontos do percurso da vida quotidiana: trabalho, lar, escola, sala, cozinha, quarto, ginásio, sala de aula, carro, autocarro, comboio. A condição humana é marcada pela necessidade de desfasamento, a continuidade constitui-se como uma planície insuportável na negação do desfasamento, impossibilitando a criação ou encontro do abrigo que a divisão oferece: vivemos tempos em que a solidão tanto é agravada pela ausência total do outro como pela presença total do outro. Ademais, o nivelamento pandémico aparentemente universal acabou por revelar com acrescida acuidade as diferenças de classes normalmente encobertas pela neblina que a experiência de normalidade instala. Aquilo que se tornou intolerável para uma grande maioria é, ou sempre foi, o dia-a-dia para outros. Com José Anjos (voz e instrumentos) e Valério Romão (voz).
Espetáculo realizado no âmbito do Festival Política 2021.