“O Teu Nome É” e “Alcindo” premiados no Festival Política 2022

“O Teu Nome É”, de Paulo Patrício, e “Alcindo”, de Miguel Dores, foram os filmes premiados na secção de Cinema do Festival Política 2022. Estavam a concurso 22 filmes que, entre abril e setembro, foram exibidos em Lisboa, Braga e Loulé. Os resultados foram revelados este sábado no Cineteatro Louletano.

“O Teu Nome É” venceu o Prémio do Júri. O filme português de 2021 explora os últimos dias de Gisberta Salce Júnior, morta às mãos de um grupo de 14 jovens em 2006, mergulhando nos depoimentos daqueles que conheciam a mulher transgénero, seropositiva, sem-abrigo e toxicodependente, e contando o relato da sua morte, após ser torturada e espancada. O contraste entre a brutalidade do que é descrito e o formato de animação em que é contada toda a história trazem à luz temas como a segregação, a condição social, a violência e a identidade de género, convencendo o júri composto por Sandra Almeida (diretora e programadora do Shortcutz), Roni Sousa (responsável pelo programa educativo do Cine Brasília) e Amaya Sumpsi (realizadora e antropóloga).

“Há muitas surpresas no percurso de uma curta-metragem, até para quem a realizou. Uma delas foi perceber que há gerações mais novas que desconhecem quase por completo o caso Gisberta. Daí que o dela, assim como o de Luna e tantas outras, não podem ser casos tidos como arrumados. Portanto, é preciso reacender a memória para não esquecer. A outra surpresa, foi chegar ao final de algumas sessões e ouvir esta pergunta: ‘E muda alguma coisa?’ Não sei. Quer dizer, o cinema não muda a realidade, muito menos a história. Quando muito, com sorte, pode mudar uma pessoa, porque se temos a cabeça redonda, não é para ter ideias quadradas”, afirma o realizador Paulo Patrício.

Já nas categorias de Prémio do Público e Prémio Sub-30 – para produções de realizadores com menos de 30 anos – distinção ainda para “Alcindo”. O filme do realizador português Miguel Dores debruça-se sobre o brutal assassinato de Alcindo Monteiro, vítima de crime de ódio por parte de um grupo de etno-nacionalistas que, na madrugada de Santo António, em 1995, percorreram o Bairro Alto agredindo pessoas negras, culminando em 11 feridos graves e na trágica morte do jovem de 27 anos. O documentário é uma ode à luta contra o racismo e a lembrança necessária de que é preciso amplificar o movimento antirracista em Portugal.

“Tendo em conta o compromisso político deste festival, ser premiado não significa passear entre palmarés, mas reforçar coletivamente o vínculo com a transformação da sociedade. Alcindo é um documento, um filme-debate. Agradecemos ao Festival Política por amplificar e reconhecer este debate”, refere Miguel Dores, a propósito do documentário que recorda um violento assassinato, ao mesmo tempo que faz a ponte para casos recentes de racismo em Portugal.

Em 2022 o Festival Política esteve presente nas cidades de Lisboa, Braga e Loulé, entre abril e setembro. Decorreram mais de 50 atividades (cinema, espetáculos, debates, exposições, visitas guiadas e workshops) que contaram com mais de quatro mil participantes. Tal como nas edições anteriores, também esta contou com interpretação para Língua Gestual Portuguesa em todos os momentos e legendagem de todos os filmes, num compromisso transversal com a inclusão. Nesta senda, foram ainda atribuídas bolsas para jovens artistas, criadores ou ativistas em parceria com o Instituto Português do Desporto e Juventude.