Programação Loulé – 20 de outubro
O Festival Política regressa, de 19 a 21 de outubro a Loulé, tendo a Pós-democracia como tema central. São três dias de cinema, performances, música, humor, exposições, visitas guiadas e debates centrados na defesa do sistema democrático e na promoção da cidadania, intervenção cívica e direitos humanos. Aqui fica a programação para o dia 20 de outubro (sexta-feira), com as atividades no Cineteatro Louletano. Solar Música Nova e Café Calcinha. A entrada é gratuita, mediante lotação das salas ou inscrições. Consulta aqui o programa completo dos três dias (PDF).
Atividades para maiores de 12 anos, salvo indicação em contrário. Os conteúdos orais do Festival Política (debates, visitas guiadas ou oficinas) têm interpretação para língua gestual portuguesa. Todos os filmes são legendados em português, incluindo os de língua portuguesa.
17h30. Debate: “Democracia sob ameaça?”
Auditório Solar Música Nova
Pode uma democracia ruir apenas por fatores externos ao sistema? Uma classe política medíocre é o primeiro atentado a uma democracia? E os restantes poderes que constituem o equilíbrio do regime a apodrecerem não são uma ameaça poderosa? E se a comunicação social não exercer bem o seu poder de fiscalização não será um fator corrosivo da democracia? Fala-se muito das redes sociais, da desinformação, do populismo, mas será que a raposa já está dentro do galinheiro? Perguntas essenciais para reflexão. Rui Calafate (comentador da CNN Portugal) coordena o debate com as comentadoras e analistas políticas Helena Ferro Gouveia e Adriana Lopes Cardoso sobre as ameaças nacionais e internacionais ao sistema democrático e ao funcionamento das instituições. Com interpretação para Língua Gestual Portuguesa
21h. Concerto-manifesto de A Garota Não: “Seleção Portuguesa: 10 milhões de convocados”
Cineteatro Louletano
“No 25 de abril de 74 eu não estava no quarto de nenhuma amiga a trocar ideias sobre livros proibidos. Não estava a ouvir rádio, não sabia de senha nenhuma. Não andei pelas ruas a celebrar a queda de um regime faminto e repressor, não levantei o braço segurando um cravo. Não estava sequer no plano dos meus pais, que só se conheciam de se olharem à janela. Com a agravante da minha mãe ser uma mulher casada – com outro marido.
No 25 de abril de 74 eu não era nascida. Isso só aconteceu alguns anos mais tarde. E fui crescendo a ouvir falar de eleições, manifestações, democracia. Primeiro sem fazer grande ideia dos seus significados. Mais tarde a tentar compreender o seu pulsar através da vida do meu bairro e da vida do país – que via pela televisão.
Fui percebendo que entre o sonho da democracia e a sua concretização há muitas mangas por arregaçar. E que nos cabe a nós o compromisso de cuidarmos desse campo tão fértil, cheio de flores e de espinhos, de caminhos verticais e horizontais, becos sem saída, de avanços e retrocessos, que é a democracia.
Que nos cabe a nós a sua continuidade – o seu cuidado.
Por isso, quando me convidaram para participar neste Festival Política, não pude senão – orgulhosamente – aceitar. Mais do que isso: dar o meu melhor para que projetos como este, que buscam um melhor presente e futuro do conjunto que somos, possam ter uma vida tão forte e longa quanto os caminhos que a cidadania e a democracia percorram.
Mas vir aqui falar sobre quê?
Pensei então que se é para botar palavra, que seja sobre o que sei, sobre alguns dos assuntos que ora me gastam ora me incendeiam. E por isso peguei na história da minha vida e num punhado de canções que fui escrevendo pelo tempo fora. Algumas falam de amores desfeitos, de abusos e morte. Outras daquele quotidiano sem glamour da gente que passa o cabo dos diabos todos os dias para ter uma casa e um prato de comida na mesa. Trabalhos precários, empresas milionárias, governos aos quais entregamos os nossos votos e a nossa crença de um país soberano, empenhado, transparente, justo. Para depois tantas vezes nos sentirmos desiludidos, sem uma verdadeira alternativa à vista.
Só que a desilusão – como o ciúme – é uma das coisas mais inúteis da nossa vida – se não vier acompanhada de uma vontade maior do que ela. Caso contrário será estéril. Dará para alimentar conversas de café, almoços de família e publicações nas redes sociais. Mas não será a força motriz de nenhuma mudança boa – de nenhuma bonança.
E por isso vim, vim para falar de mudanças em que acredito.”
Não é um concerto d’ A garota não. É um manifesto dela. Com interpretação para Língua Gestual Portuguesa
23h. Sessão “Portugal ao Espelho” – cinema
Cineteatro Louletano
“O aparente caos da diversidade”, Colectivo Fotograma 24 e estudantes de Montemor-o-Novo, 5’
Quando a aparência se sobrepõe à própria realidade, torna-se essencial refletir sobre questões que existem desde o início da nossa espécie e que contribuem para a sua evolução. Assegurar que hoje podemos ver para além do “aparente caos” requer coragem por parte da sociedade, mas facilita a aceitação da diversidade.
“Bentuguês”, Daniel Borga, 16’
Depois da escola, um grupo de crianças reúne-se na Casa de São Bento, onde está localizado um projeto comunitário. Aí têm a liberdade de sonhar, brincar e crescer. Dentro de uma máquina do tempo, pensam no seu futuro.
“Nha Fidju”, Diogo Moreira Carvalho, 5’
Um filho sem a mãe, uma mãe sem o filho. Um problema de gerações de afrodescendentes, o seu direito a uma família e a uma casa.
“Que mundo, português?”, António Limpo, 10’
A Exposição do Mundo Português, nesse Portugal grandioso e verdadeiramente pequeno, na hipnose do fascismo e analfabetismo vigente. Do Portugal perfeito ao Portugal imperfeito. Algures entre a Ilusão e a Alheação, que mundo este, português?
“Somos punks ou não?”, Telmo Soares, 20’
Nasceram para serem artistas e recusam-se a aceitar que as limitações com que nasceram possam parar os seus sonhos. Com mais de 25 anos como banda, com ensaios semanais, mais de 200 concertos (principalmente em instituições e eventos de inclusão social), houve mudanças no grupo por questões de saúde de alguns membros mas sempre a sonhar com a participação plena como banda.
AÇÃO EXLUSIVA PARA O PÚBLICO ESCOLAR
10h30. Sessão “Portugal ao Espelho” – cinema
Cineteatro Louletano
“O aparente caos da diversidade”, Colectivo Fotograma 24 e estudantes de Montemor-o-Novo, 5’
“Bentuguês”, Daniel Borga, 16’
“Nha Fidju”, Diogo Moreira Carvalho, 5’
“Que mundo, português?”, António Limpo, 10’
“Are We Punks Or Not?”, Telmo Soares, 20’
Após a exibição dos filmes decorre uma conversa com os diretores do festival.
EXPOSIÇÕES
“Institucionalizado”, de Isabela Marques e Airton Cesar Monteiro
Local: Solar da Música Nova; curadoria: Kriativu. As instituições totais são lugares onde um número considerável de indivíduos na mesma condição leva uma vida conjunta, isolado da sociedade. No caso das prisões, esse isolamento tem a função de proteger a comunidade exterior desses indivíduos. A esse processo de aplicação opressiva de controlo social- e às suas consequências – chama-se “institucionalização”. O Paulinho e o Mequinhas, protagonistas desta exposição, foram institucionalizados durante 25 e 37 anos, respetivamente. De forma descontinuada, passaram décadas das suas vidas em diversas instituições prisionais desde a menoridade.
“O mundo num click”, de Alexandre Elias
Local: foyer Cineteatro Louletano. Exposição de fotografia de Alexandre Elias, vencedor do concurso de bolsas para Jovens, em parceria com o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ)
“MULHERES PPT – Mulheres na Política PorTuguesa”, de Salomé Marques
Local: foyer Cineteatro Louletano. Instalação dedicada às mulheres que foram cruciais na história Política de PorTugal. Integra a proposta vencedora do concurso de bolsas para Jovens, em parceria com o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).
Entrada gratuita, mediante o levantamento de ingresso na bilheteira do Cineteatro Louletano ou através da plataforma online BOL do Cineteatro e sujeita à lotação do espaço.
PROGRAMAÇÃO DIÁRIA: 19 de outubro, 20 de outubro e 21 de outubro.
Coprodução: Festival Política e Município de Loulé
Conceito: Associação Isonomia
Apoio Institucional: Instituto Português do Desporto e Juventude;
Parcerias de programação: Parlamento Europeu – Gabinete em Portugal, Kriativu, Real Pelágio, Sou Quarteira.
Apoio à divulgação: FCB Lisboa, Trix, ACAPO, dezanove, Esqrever
Media partners: RTP e Antena 1