Onde estavas quando leste o primeiro jornal?
O acesso à informação é um direito individual ligado ao direito de liberdade de expressão e autonomia, com livre troca de ideias, auxiliando na tomada de decisões. No âmbito do coletivo, a informação é fundamental no desenvolvimento da cidadania, garantindo a participação política.
A partir do arquivo de revistas e jornais antigos de Cristóvão Cunha, guardados desde 1995, e do testemunho de vários jornalistas, pretende-se resgatar uma memória de jornalismo que aponte para o seu futuro.
“Onde estavas quando leste o primeiro jornal?” é um espetáculo de Cristóvão Cunha (projeto e interpretação) e de Sónia Barbosa (dramaturgia e encenação), para ver no dia 10 de maio, no Centro de Juventude de Braga, às 16h. Um espetáculo para todas as idades. Entrada gratuita.
Ideia
No seu último livro, Morte e Democracia, José Gil aponta para à aparição de espectros no espaço público democrático. Estes pairam no espaço das democracias pressionando os meios de comunicação social e nas redes sociais. Segundo o autor, a vocação das democracias, desde Atenas, seria a imanência, destituir a transcendência, colocando o humano no centro. Nesse sentido, qual o papel do jornalismo nesse espaço das democracias e na identificação dos espectros? Como pode apelar e desenvolver um dos direitos básicos e universais de liberdade de expressão, direito à informação e o seu acesso a todos os cidadãos? A partir do arquivo de revistas e jornais antigos de Cristóvão Cunha, guardados desde 1995, e do testemunho de vários jornalistas, pretende-se resgatar uma memória de jornalismo que aponte para o seu futuro. Em termos de território e de público, o projeto visa sensibilizar para a necessidade dos meios de informação livres para um melhor entendimento global entre povos e nações.
Sobre a criação
Cristóvão Cunha tinha 17 anos quando comprou o primeiro jornal. Foi em 1995 que comprou o Expresso por influência de um amigo. Desde aí, nunca mais parou, acumulando centenas de jornais na garagem dos pais. Porque simplesmente não os conseguia deitar fora. Pilhas e pilhas de memórias pessoais que se misturam com eventos transformadores do mundo. Como um diário pessoal, em que cada jornal o situa um lugar, um momento histórico, o imaginário de um colunista. Uma verdadeira cápsula do tempo que se vai abrindo e construindo uma linha condutora para uma peça, tendo os jornais velhos e amarelados por companhia em palco.
Mas não se trata de um exercício de memória e melancolia. Antes um passar de testemunho de um jornalismo escrito para um novo jornalismo que já existe, e outro que ainda não sabemos como será. Cada notícia desenterrada coloca uma questão no presente, ou o desloca para outra realidade. Mesmo quando viajava por todo o mundo, Cristóvão comprava sempre jornais e revistas dos locais por onde passava. Mesmo jornais regionais. Juntava várias visões do mundo para completar a visão que os jornais nacionais transmitiam.
Mas o jornalismo não é só escrito. Cristóvão estagiou na TSF em 1999 cruzando-se com gigantes que o virão a influenciar também na vida, no ano que o jornalismo ajudou um país a tornar-se independente que valeu a Medalha dos Direitos Humanos pela Assembleia da República. Onde aprendeu que existem forças que procuram limitar o jornalismo e a sua liberdade de expressão. E que isso acontece ainda no século XXI.
Rodeado por estas enormes pilhas de jornais, e com o apoio de projeções da informação no mundo digital, Cristóvão vai colocando a questão de qual a importância do jornalismo no futuro. Como será? Como sobreviverá nessa era digital? Quem serão os jornalistas do futuro? Juntando a estas questões muito atuais também inspirações da sua própria vida com os jornais. Criando uma narrativa onde o pessoal e o coletivo, o subjetivo e o universal, o analógico e o digital se cruzam e misturam. Uma narrativa que convida à partilha e à discussão. Num momento onde este tema ganha contornos de grande importância e urgência para o futuro das nossas democracias. Citando Miguel Esteves Cardoso, na sua crónica diária para o Público (12/01/24) “Quando se fala de jornais, fala-se de informação, mas não é só a informação que se perde quando se perde um jornal. […] É um atentado cultural. Não é só a informação que se ameaça. É todo um ecossistema. É toda uma cultura.” Daí a pergunta: Onde Estavas Quando Leste o Primeiro Jornal? Como que a provocar um novo leitor nestes tempos de Pós-Verdade.
Dramaturgia e encenação: Sónia Barbosa; Ideia original, cocriação e interpretação: Cristóvão Cunha; Espaço cénico: Sónia Barbosa e Cristóvão Cunha; Desenho de luz e direção técnica: Cristóvão Cunha; Apoio à investigação científica: Pedro Coutinho; Comunicação e design: Nuno Rodrigues; Produção: Bárbara Marques; Apoio à construção de cenografia: José Vaz; Financiamento: Eixo Cultura – Município de Viseu; Apoios: Festival Política; Núcleo de Animação Cultural de Oliveirinha (NACO), Biblioteca de Marvila – Município de Lisboa, Festival Política; Instituto Superior Politécnico de Viseu, Escola Superior de Educação de Viseu; MILObs – Observatório sobre Media, Informação e Literacia; CESC – Universidade do Minho; Gerador; Jornal do Centro; Contraponto; Agrupamento Grão Vasco.